sexta-feira, 1 de maio de 2009

Entrevista com Philippe Cousteau Jr.


ÉPOCA – Philippe, tive a honra de entrevistar seu avô, Jacques-Ives Cousteau (1910-1997), na sua última vinda ao Brasil, em 1993. Para mim foi emocionante, pois cresci assistindo aos documentários sobre as aventuras do comandante do Calypso ao redor do mundo. Você é o mais novo representante de uma linhagem de aventureiros iniciada nos anos 1940 por seu avô, e que teve continuidade com seu tio, Jean-Michel, e seu pai, Philippe (1940-1979), que morreu antes de você nascer. Como é ser o herdeiro deste legado?


Philippe Cousteau – É um prazer conversar com qualquer um que tenha conhecido o meu avô. É uma honra e uma responsabilidade ser neto dele. Eu cresci ouvindo falar das suas aventuras. Apesar de morarmos nos Estados Unidos e nosso avô na França, eu e minha irmã, Alexandra, o encontrávamos várias vezes por ano. Meu avô era muito ocupado, mas sempre tinha um tempinho para passar com a gente. Ele exerceu uma grande influência sobre nossas vidas.


Quanto ao nosso pai, Philippe, ele começou a mergulhar com meu avô quando tinha apenas cinco anos, e o acompanhou em diversas viagens ao redor do mundo a bordo do Calypso. Até morrer, em 1979, nosso pai produziu 26 documentários da série O Mundo Submarino de Jacques Cousteau. Minha irmã tinha três anos quando ele morreu. Eu nasci sete meses após sua morte. Para homenagear sua memória, eu e minha irmã fundamos nos Estados Unidos uma organização não governamental chamada EarthEcho International. Foi uma forma de dar prosseguimento ao seu trabalho.


ÉPOCA – O que faz a EarthEcho?

Cousteau – Meu pai foi um visionário na compreensão da conexão humana com o meio ambiente. Minha irmã e eu damos prosseguimento ao seu legado, ao explorar os mares através de documentários como a série Oceanos. Através da nova série, procuro mostrar quais são os efeitos negativos, mas também positivos, do ser humano sobre o meio ambiente marinho. O ser humano faz parte do meio ambiente. Creio que ainda persiste em muitos setores da sociedade o mito de que o homem é o senhor da natureza, e que temos o direito de fazer dela o que bem entendermos, quando na verdade, como qualquer animal, nós precisamos de ar puro e de água limpa para sobreviver. Ao insistir nesta falsa premissa, a humanidade corre um sério risco. O trabalho da EarthEcho é transmitir esta mensagem a uma nova geração, uma geração que não cresceu assistindo os filmes do meu avô. Compartilhar este espírito é o que significa ser um Cousteau.


ÉPOCA – No primeiro episódio de Oceanos, você mergulhou no mar de Cortéz, no México. Há 15 anos, ali havia uma enorme concentração de tubarões martelo. Mas hoje, não acharam quase nenhum.

Cousteau – No mar de Cortéz, onde havia centenas de tubarões martelo, só encontramos alguns filhotes vivos – além de duas ou três carcaças de filhotes apodrecendo na praia, sem as barbatanas. O comércio de barbatanas para satisfazer na Ásia os apreciadores da sopa que se faz com elas é responsável pela morte de milhões de tubarões anualmente. Foi o que aconteceu no mar de Cortez. Seus tubarões martelo desapareceram. E isto aconteceu rapidamente. É alarmante. Muita gente não sabe como os tubarões são importantes para a saúde do ecossistema marinho. Quando se mata tubarões, estão se matando os animais que mantêm a saúde do mar. São eles que comem os peixes doentes, velhos e fracos. São eles que limpam as águas das carcaças dos animais mortos. Sem os tubarões para realizar este trabalho, doenças podem se alastrar pelos cardumes, dizimando os estoques de peixes e destruindo ecossistemas inteiros.


ÉPOCA – A tragédia dos tubarões é apenas um aspecto da rapina que a indústria pesqueira realiza nos mares.

Cousteau – Sim. Assim como os tubarões, o atum do Atlântico norte está numa situação crítica, da qual ele não deve se salvar. O atum do Atlântico norte está em vias de extinção. O mesmo ocorre com várias espécies em todos os mares. Para quem nunca teve a oportunidade de ver na sua frente um grande navio-pesqueiro do Japão, da China, de Taiwan ou da Rússia, é difícil compreender a escala da pesca industrial e quão devastadora é a tecnologia que eles usam. Os navios são grandes como transatlânticos. Suas redes de arrasto varrem e destroem todo o solo marinho. Nada escapa delas. O que sobra é um leito marinho destroçado e estéril. Tudo que é recolhido pelas redes é trazido para a superfície. Mas no navio só ficam as poucas espécies de valor comercial. Todo o resto é jogado fora, morto. A pesca industrial é insustentável e essencialmente criminosa. É um crime que a Europa e os Estados Unidos não façam nada para impedir a extinção dos cardumes. Na Europa, na África e na América Latina, muitos países insistem em ignorar que a pesca seletiva e sustentável, respeitando-se cotas e evitando a pesca na época de reprodução, é a melhor forma de defender os interesses dos pescadores. Prosseguir com a pesca predatória, ignorando os alertas dos cientistas, é o caminho certo para a falência da indústria pesqueira e o desemprego de milhões de pescadores – sem falar na extinção de diversas espécies.


ÉPOCA – A solução seria banir a pesca internacional para recompor os cardumes, como foi feito com a caça às baleias há 20 anos?

Cousteau – Sim. Mas não é o suficiente. É verdade que, no caso das baleias, 20 anos de banimento da pesca ajudou a elevar o número de animais - apesar de a Islândia, o Japão e a Noruega continuar a infringir criminosamente as leis internacionais. Mas a quantidade de baleias existente hoje ainda não se compara nem de perto àquela anterior ao início da caça, no século XVIII. E nem todas as espécies se recuperaram. É o caso da baleia franca do Atlântico. Seus números não cresceram. Hoje, só restam 300. É muito provável que este número não seja suficiente para livrar a espécie da extinção.

Um comentário:

Anderson Videomaker disse...

Aqui está o link da loja onde há à venda o CD com todas as músicas usadas no documentário:PALAWAN, O ÚLTIMO REFÚGIO".
http://www.londoncalling.com.br/produtocompracd.asp?Produto=716042

Parabéns pelo blog...!!!